Tamazga resgatada. Verdade historica e identidade no Norte da África

Tamazga resgatada
Verdade historica e identidade no Norte da África
 

Juan López García


No norte da África a informação é continuamente manipulada com a intenção de ocultar a verdadeira história dos imazigan (o povo autóctone), e substitui-la por outra cultura emergente. Os invasores não ficaram satisfeitos com os genocídios, etnocídios, aculturação, marginalização..., e por isso escolheram outro caminho: manipular a história milenar deste povo. A manipulação se leva a cabo especialmente através dos meios de comunicação escrita, sonora e do sistema educativo. Por isso, todo o mundo desconhece esta cultura, e os poucos que sabem algo dela se perguntam «O que são os imazigan?»,«Por que imazigan e não beréberes»... Vamos contestar essas perguntas dando uma idéia geral sobre este desafortunado povo.

Amazig (plural imazigan) significa «homem livre». A maioria das pessoas conhece este povo como berebere. Este termo é uma derivação do termo «bárbaro», herdado dos povos gregos. Os árabes o usam todavia com sentido pejorativo, por outro lado os ocidentais o «suavizaram» utilizando a forma berebere de maneira mais neutra.

Tamazga - o Norte da África no idioma amazig -, se estende desde o Egito (Oásis de Siwa) até as Canarias (primitivos guanches), e do Mediterrâneo até as fronteiras da África subsahariana. É a pátria dos imazigan desde milhares de anos (Jorge Alonso Garcia) e - segundo nossos cálculos - desde aproximadamente 1390 anos é dos imazigan e dos imazigan mentalmente arabizados.

Tamazga foi parcialmente colonizada pelos fenícios em 814 a.C., e depois pelos romanos em 40 a.C., os quais não puderam ocupa-la totalmente devido a resistência amaziga.

A cultura amaziga é muito variada e se manifesta de muitas formas, por exemplo com a tawiza, um peculiar intercâmbio de ajuda entre os imazigan, uma forma de expressar a solidariedade e a hospitalidade entre imazigan ou entre eles e vizinhos.

A mulher é a coluna da família. Sempre houve igualdade entre ela e o homem, que participam juntos da vida cotidiana. Graças a mulher ainda se mantém os símbolos mais destacados da civilização amaziga. Poderíamos falar das tatuagens, tiggas, uma forma de expressar a identidade; os «pearcings», tissagnas; a roupa branca, rizar, que é uma forma de expressar a paz ao outro... Ainda se conservam esses tesouros culturais, que fazem da cultura amaziga uma cultura totalmente viva.

Os imazigan foram fragmentados e dispersados pelos colonizadores árabes e europeus, e por isso, agora os encontramos desagregados nos atuais países do Norte da África: Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia, Mauritânia, Egito, Chad, Malí, Burkina Faso, Nigéria,...

Os árabes mudaram o nome Tamazga por Al Magrib Árabe, para arabizar a região e borrar sua identidade cultural original. Os meios de comunicação não deixam de falar continuamente do árabe.

Graças as zonas de difícil acesso - montanhas, desertos, ilhas, etc. - que há na região, a civilização amaziga segue viva; se em todo Norte da África fosse plano como Tunísia, não encontraríamos hoje em dia nenhum rastro desta civilização milenar.

Os conflitos que existiram e que ainda se dão entre os imazigan que lutam por seus direitos e as ditaduras de países citados, que os marginalizam e excluem do panorama sociopolítico, acabam os obrigando a emigrar para os exterior,principalmente para a Europa. Encontramo-nos na Espanha, França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Inglaterra... onde chegam a ocupar cargos importantes (políticos, desportivos, culturais, etc.). Tanto no exílio humilde da emigração, como quando conseguido grandes êxito, paradoxalmente, continuam sendo chamados de árabes. Nenhum povo merece essa injustiça!

Os imazigan falam tamazijt, uma língua antiqüíssima da família afroasiática, que se escreve em tifinag (alfabeto amazig). Há mais de 1200 textos pré-históricos escritos em tifinag que foram encontrados em Canarias, Oualili (Marrocos), Kabilia (Argélia) e outros lugares. Esta língua não é reconhecida oficialmente em nenhuma dos países; apesar de que, por exemplo, 60% da população de Marrocos é amaziga e o resto é amaziga-arabizada. A falta de comunicação interimazigan, as fronteiras, a ausência de meios de comunicação - sobretudo sonoros - no idioma tamazijt, as ditaduras, etc., provocaram a fragmentação dialetal e a aparição de novas formas de a escrever e pronunciar. Atualmente os árabes zombam dos que se denominam beréberes por não possuírem uma língua, um idioma comum, quando foram eles precisamente que provocaram essa situação.

Os governos têm imposto o árabe na vida diária das escolas. Esta é uma das causas do analfabetismo no Norte da África; os alunos tem que andar muitos quilômetros para chegar na escola, onde os professores falam um idioma que nunca haviam escutado anteriormente. Há crianças que nem sequer haviam visto um árabe antes de ir a escola. É o que afirma este artigo

Manipular a história para manipular a realidade

Além de ocupar as zonas mais ricas e de fácil acesso, os invasores tem ocupado também a história, manipulando-a. Vamos ver alguns exemplos:

- Arabizar a origem do povo amazig para aproveitar e difundir a teoria que diz que a origem dos imazigan se remonta ao Egito antigo e/ou ao Iêmen... e que portanto sua origem sempre foi árabe. Supondo que esta teoria fosse verdadeira, os manipuladores esquecem interessadamente que a origem dos iemeníes e dos faraós é muito anterior a aparição dos árabes. Apesar da evidente falácia, esta teoria é aproveitada para avançar do genocídio calculado e limpar os cérebros dos imazigan e dos imazigan-arabizados.

- Manipular o sistema educativo: a base de imita-lo de outros países do Golfo Pérsico, sobretudo de países como Síria, Líbano, Egito, Iraque... e França, este tipo de manipulação é o mais brutal, porque leva a população a um túnel sem saída, que começa lhes fazendo ignorar sua própria história e depender da história desses países, continua com um sentimento de inferioridade por ter uma cultura, idioma e costumes diferentes, e termina olhando sua própria cultura e civilização através dos olhos dos outros.

Esta manipulação conduz a uma situação bastante trágica: necessidade do estrangeiro (árabe e francês), emigração, imitar os outros e transformar a cultura amaziga em algo estrangeiro e estranho em sua própria terra.

No sistema educativo, os manipuladores introduzem os estereótipos nas mentes dos alunos: «o bárbaro selvagem», e «o árabe civilizado e fiel». Sem comentários.

Não esqueçamos tampouco da arabização dos personagens históricos como Ibn Jaldún, conhecido no mundo como o primeiro filósofo e historiador que escreveu a história dos imazigan, Tariq Ibnu Ziyad (deste personagem procedo o nome de Gibraltar).

- Os meios de comunicação, tanto escritos como sonoros, audiovisuais, digitais ou não, estão em árabe e/ou francês; a cultura amaziga em compensação está marginalizada. A tratam como «folclore», quando chegam a falar dela. É sobretudo através dos meios de comunicação que manipulam a cultura amaziga. Constantemente, os árabes, e os imazigan mentalmente arabizados, chamam os imazigan «francófonos», e «infiéis», com o objetivo de ferir sua autoestima e estender o ódio sobre este povo. Seguindo uma ideologia que poderíamos chamar «nasserialista» (de Jamal Abdel Nasser, fundador do panarabismo moderno), os «bárbaros» são francófonos, e o partido que defende seus direitos na Argélia, é o «Partido Francês». Segundo essa ideologia o tamazijt não seria um idioma, sendo um dialeto oral que se fala, mas que não se pode escrever (cfr. «Qué es lo que quieren los bárbaros en Argelia», em www.islamonline.net/arabic, a página árabe mais destacada no mundo muçulmano).

Mais exemplos: os árabes rechaçam que se diga «Oriente próximo», «Golfo pérsico» e preferem «Oriente árabe» ou «Golfo arábico». Segundo eles, essas expressões se usam intencionalmente para eliminar tudo o que es árabe e justificar a existência do Estado de Israel... mas isso é exatamente o que fazem eles impondo o termo Al Magrib Al Árabe para denominar o Norte da África/Tamazga e arabizar sua população.

Defender os direitos da cultura amaziga com base em denunciar os meios que a manipulam e a perseguem é o início de um longo caminho para defender a cultura, sejam qual for as ideologias que a reprimem. Hoje em dia contamos com diversas formas para defender esta cultura: meios de comunicação, paginas web, associações culturais, organizações de direitos humanos… Nesta causa, a maioria das pessoas trabalham no exterior, sobretudo da Europa e Estados Unidos, e desenvolvem um trabalho de «conscientização», informação, reflexão, difusão e «luta ideológica» para salvar este Povo e sua cultura.

A manipulação da informação no Norte da África seguirá, mas nunca se poderá manipular nosso esforço intelectual em prol da verdade e da transparência. Assim, contra a ignorância e o silenciamento, recuperaremos a cultura, a história e a língua amaziga: a identidade de nosso Povo.

Se «Para outra Humanidade, outra comunicação»... nós dizemos:

«Para outra Humanidade, Tamazga resgatada».

 

Tamazga / Catalunha-Epanha