Psicologia da Libertação

Psicologia da Libertação


A compreensão dos acontecimentos sociais não é fácil, porém necessária para uma vida sadia das pessoas. Nossa capacidade de entender a história é limitada e muitas vezes está fora de nosso alcance. São necessárias, por isso, relações sociais favorecedoras de um desenvol-vimento consciente e livre. Para transformar o mundo é necessário algo mais que um trabalho de mudança nos níveis externos... A psicologia tem um lugar privilegiado na compreensão e no acompanhamento dessas mudan-ças. É a que pode possibilitar que as pessoas tenham claridade a respeito da história. Falta-nos colocar o conhecimento psicológico a serviço da construção de uma sociedade na qual o bem-estar de uns poucos não se assente sobre a desgraça de muitos.

Ignácio Martín-Baró, jesuíta e psicólogo social, faz sua proposta de Psicologia da Libertação (PsL), especial-mente dirigida às maiorias pobres e oprimidas, um compromisso ético e político com a sociedade.

As pessoas necessitam ser agentes de suas próprias existências, libertando-se das estruturas que as opri-mem. É a preocupação da PsL: um compromisso ético e político com as pessoas e as comunidades, uma ativida-de de transformação da realidade. Para esta nova forma de imperialismo que penetra o cotidiano de cada vida, necessitamos da força libertadora que vem de dentro de todos.

A PsL recupera a memória histórica das maiorias, impede o fatalismo e a alienação, possibilita a participa-ção crítica, especialmente daqueles que são as vítimas da sociedade e libera o potencial de esperança e resis-tência de que é capaz uma comunidade humana.

Buscando manter vivas as idéias da PsL, foram orga-nizados seis Congressos Internacionais. Em novembro de 2005, haverá o sétimo. Para se obter maiores informações sobre o Congresso, conectar com o professor Ignácio Dobles: idobles@cariari.ucr.ac.cr, da Universidade de Costa Rica.

Se você é psicólogo/a e quer dar à sua profissão um sentido social de libertação, forme um grupo, ponha-se em contato com o movimento de PsL, participe e faça de sua profissão um serviço libertador pela causa dos pobres. Conecte-se com a professora Raquel Guzzo, Campinas, Brasil: rguzzo@mpc.com.br

Filosofia da Libertação

Associação Sul-americana de Filosofia e Teologia Interculturales

Convencidos de que nem a filosofia nem a teologia latino-americanas em geral, apesar de seus inegáveis e importantes avanços na contextualização de suas reflexões, alcançou a total imersão intercultural e inter-religiosa que requer a diversidade cultural e religiosa de Abya Yala, um grupo de filósofos e filósofas, bem como de teólogos e teólogas, reunidos em Canoas, RS, Brasil, por ocasião do Primeiro Seminário Internacional sobre Filosofia Intercultural e os desafios da globalização, decidiu, em assembléia constituinte, realizada no dia 20 de maio de 2003, fundar a “Associação Sul-Americana de Filosofia e Teologia Interculturais” (ASAFTI).

Com esta nova organização, pretende-se revitalizar o movimento libertador que há quase 35 anos vem promovendo a reflexão filosófico-teológica do Continente, centrando-o no diálogo e na promoção da pluralidade filosófica e teológica latino-americana. O objetivo fundamental da ASAFTI é fomentar o diálogo e intercâmbio da América Latina com sua própria diversidade.

Sua estrutura organizativa é a seguinte:

Presidenta: Dina V. Picotti, Buenos Aires

Vice-presidenta: Neusa Vaz, Porto Alegre

Secretário: Antonio Sidekum, São Leopoldo

Vice-secretária: Vanildo Luiz Zugno, Canoas

Vogais: Carlos Cullen, Buenos Aires

Diego Irarrázaval, Puno.

Luis Carlos Suzin, Porto Alegre

Maurício Langón, Montevidéu

Ricardo Salas, Santiago do Chile.

Áreas temáticas:

1. Culturas ameríndias;

2. Culturas afro-americanas;

3. Culturas ibero-americanas;

4. Culturas imigrantes; 5. Culturas emergentes.

A ASAFTI tem sua sede legal no Departamento de Filosofia do Centro Universitário La Salle, em Canoas, Brasil.

O endereço para contatos e informações é: sidekum.sle@terra.com.br

Medicina da Libertação

Lanny Smith

Ainda que o livro do P. Martín Baró seja sobre “Psicologia da Libertação”, parece-me que a mensagem do livro é aplicável à medicina em geral. Martín Baró escrevia: “Em nosso caso, mais que em outros, o princípio a ser mantido é o de que a preocupação do cientista social não deve ser tanto explicar o mundo, mas modificá-lo”.

Martín Baró insiste em que A Psicologia da Libertação devia explorar novos horizontes, uma nova maneira de buscar conhecimento e uma nova maneira de agir. Como modelo do que se deveria fazer ele se refere a Paulo Freire, o brasileiro que desenvolveu o método de alfabetização de adultos pobres baseado no diálogo e buscou romper “as cadeias da opressão pessoal, assim como as cadeias da opressão social”.

Parece-me que Martín-Baró descreveu o tipo de medicina que nós estávamos tentando praticar: “O uso consciente e convicto da saúde para promoção da dignidade humana e da justiça social”.

Medicina da Libertação imediatamente traz à mente a Teologia da Libertação (TL), o movimento que interpretou os ensinamentos de Jesus fazendo um chamado radical à igualdade e ao amor a todos. Metodologia útil com ou sem o ponto de vista religioso, a TL faz um chamado à observação, reflexão e ação. Sempre que possível, este processo deveria realizar-se por meio de acompanhamento dos marginalizados, aqueles a quem D. Romero se referia como os “que não têm voz”.

Evidentemente, muita gente tem praticado a Medicina da Libertação por longo tempo, sem que a tenham chamado assim. Temos que esforçar-nos para trabalhar dentro do contexto da comunidade, porque a libertação é um exercício tanto comunitário quanto individual. Em “Virtudes da Prática Médica” , Edmundo Pellegrino e David Tomasma apresentam a medicina como uma comunidade moral: “Estas três coisas – índole da enfermidade, não propriedade do conhecimento médico, e o juramento de fidelidade aos interesses do paciente – geram um laço moral forte e uma responsabilidade coletiva... A medicina não pode, e não deve, fazer tudo isto sozinha. Pode associar-se a outros profissionais da saude, pessoas interessadas e legisladores”.

Veja: www.dgonline.org/spanish/sp-libmed.html

Para um movimento da Libertação

A primeira vez que escutei “Medicina da Libertação, associei-a, obviamente, à “Teologia da Libertação. Pensei, porém: qualquer pessoa poderia utilizar seu campo de especialização “para a libertação”, para ajudar outros a construir um mundo melhor. Minha mente extrapolou o conceito, aplicando-o à minha própria profissão.

Sou escritora e editora; faço o possível para ajudar na promoção da saúde e direitos humanos num trabalho de voluntariado para uma organização sem fim lucrativo chamada “Doutores para a Saúde Global”. Elaboro seu Boletim de Notícias e outros materiais. Poderia dizer que sou uma “Escritora e Editora de Libertação.

Qualquer profissão pode ser um veículo para dar poder aos menos afortunados. Os que trabalham na hidráulica e dão seu tempo e conhecimento à “Habitat for Humanity”, estão praticando uma “Hidráulica de Libertação. O perito em computadores que trabalhou voluntariamente para criar uma rede de computadores e um projeto em El Salvador praticou “Engenharia de Libertação. Minha mãe, que se vale da pintura para denunciar a violência e a injustiça, faz “Arte de Libertação. E assim as possibilidades são infinitas...

Imaginem que comunidade poderia ser construída se cada um, trabalhando para melhorar seu próprio ambiente, pudesse sentir-se parte de um grupo muito maior de afinidade... Um “Movimento de Libertação, feito de “Medicina de Libertação, Engenharia de Libertação, Editorial de Libertação, Arte de Libertação, etc. Cada um de nós teria contato com uma rede de profissionais em vários campos de especialização e poderíamos ajudar-nos a resolver os problemas com formas novas e originais...

É claro que fazer um trabalho de caridade simplesmente não o qualifica como “Libertação; algumas das forças mais opressivas em nossa sociedade fazem muitas “obras de caridade”... Por isso é importante estender a este Movimento a definição da Medicina de Libertação: “O uso consciente e determinado da vocação pessoal para promover a dignidade humana e a justiça social”. Todo tipo “de libertação requer trabalho para e com outros seres humanos, com a consciência de que as mesmas cadeias nos amarram a todos, ainda que alguns levemos uma vida mais fácil.