O Japão é diferente

O Japão é diferente

Autor


O Japão rompeu, há anos, em nível mundial, com muitos mitos baseados na preeminência industrial de países ocidentais, especialmente da Europa e Estados Unidos. Com a presença de um Japão oriental, já não se pode equivaler “civilização moderna” com o “Ocidente”. Apesar dos sistemas industriais e políticos chegarem a unificar-se com a ajuda da globalização, os métodos de agir são basicamente distintos.

O nível de educação no Japão é muito alto, e praticamente 50% dos jovens terminam os estudos universitários. O Japão há muito tempo, tem tratado de conhecer o melhor de outros países e tem assimilado muita coisa, porém o faz dando-lhe um ar totalmente japonês.

Religiosamente falando,

o Japão é xintoísta e budista ao mesmo tempo. O xintoísmo é uma religião que somente se encontra no Japão, desde antigamente. Caracteriza-se pelo respeito aos antepassados, ao imperador e à natureza. A tradição e cultura japonesa estão profundamente imbuídas dessa influência xintoísta. Os festivais populares, as celebrações de bodas, os rituais na construção de edifícios, as festas de ano novo, a nostalgia pela natureza, etc, indicam a influência xintoísta.

O japonês comum não sente contradição em aceitar outra religião, como o budismo. O budismo se identificou com a tradição cultural-religiosa japonesa.

Existe uma quantidade enorme de religiões no Japão. Segundo especialistas, somente na segunda metade do século passado se fundaram mais de 2000 pequenas seitas religiosas.

O Japão, país eminentemente industrial.

A derrota do Japão na segunda Grande Guerra Mundial abriu nova página definitiva na história do país. O Japão optou por uma constituição pacífica e renunciou a todo direito de declarar guerra. O novo sistema político orientou as forças da população para um desenvolvimento econômico rápido, baseado nas exportações de produtos japoneses e no emprego total da população. Escolheu-se o caminho prático, evitando ideologias. Reconheceu-se o direito de associação, os planos econômicos do governo foram continuamente revisados por numerosos comitês com participação de especialistas, tecnocratas, homens de negócios, operários, etc.

A euforia econômica acabou no começo dos anos 90. Veio depois a recessão da qual o Japão não se viu livre. A nação está passando atualmente por sistemas drásticos de re-estruturação econômica e com resultados diferentes para trabalhadores e funcionários, e a bancarrota de mil negócios. O desemprego subiu, embora se mantenha abaixo de 5%, o sistema de contrato de trabalho tradicional tem piorado, e o alto número dos “sem casa” nas grandes cidades se fez patente.

Todos esses fenômenos transformaram a atitude do japonês que se tornou mais materialista e egoísta. Existe uma visão mais internacional, pois mais de 16 milhões de turistas japoneses, cada ano, roda pelo mundo e estão conscientes de milhares de estrangeiros que, procedentes de países asiáticos e latino-americanos e ainda da África, se arriscam de trabalhar no Japão sem a documentação adequada. Os produtos do terceiro mundo continuam inundando o comércio japonês.

Os políticos continuam aparecendo em primeiro lugar nos meios de comunicação, mas as razões são os escândalos e a corrupção. O Japão sofre falta de liderança em todos os campos, sobretudo com os políticos. Grande parte da população se tem desintegrado da política e dos problemas sociais. Como resultado, a juventude, totalmente desorientada, tornou-se apática e egoísta, as relações sexuais têm piorado e há grande número de divórcios.

Dados esperanzadores e otimistas

O Japão, uma máquina formidavelmente organizada na qual as pessoas tendem a desaparecer como indivíduos, tem muitos problemas de discriminação e injustiças, de violência e corrupção, de destruição ecológica. Porém, nestes últimos dez anos têm aparecido milhares de organizações de cidadãos que atuam livremente para fazer uma sociedade mais humana. São grupos apolíticos por opção e reacionários a qualquer religião. Escolhem programas alternativos e apresentam desafios a religiões que, como o Cristianismo, falam de opção pelos pobres. Nos últimos anos vem crescendo as redes de ONGs e suas atividades políticas sem filiação a partidos.

Um número significativo de ONGs japonesas trabalha em países de terceiro mundo, sobretudo asiáticos. São organizações pequenas em sua maioria, que trabalham contra a pobreza, com todo tipo de projetos, especialmente em zonas rurais e subúrbios de grandes cidades. Seus financiamentos provem do cidadão comum japonês. Esta é a outra face do Japão oficial.

Aspectos da cultura Japonesa que oferecem contribuições positivas:

A estruturação sócio-cultural da nação está baseada na concepção familiar. Esta se estendeu à organização interna da empresa. A lealdade à empresa tem sido tradicionalmente um dos valores supremos nas relações de trabalho, o que tem beneficiado a nação. Este aspecto cultural essencial da lealdade exige submissão e respeito diante dos superiores. No confronto com outras culturas, sobretudo ocidentais, estes valores culturais vão diminuindo.

A harmonia externa, outra característica cultural japonesa. Evitam-se enfrentamentos diretos e se buscam meios de reconciliação. As reuniões em todos os níveis são muito freqüentes com a finalidade de obter uma opinião comum.

As relações pessoais se exploram ao máximo, acima de teorias ou ideologias. Evita-se sempre colocar em ridículo outras pessoas em público.

Busca-se sempre o melhor em outros sistemas, inclusive nas religiões, e se buscam as maneiras de aceitar o melhor, porém sem compromissos totais. Sua assimilação se produz dentro da identidade japonesa.

Que alternativas oferece o Japão cultural?

O Japão deseja sinceramente a paz entre todas as nações. Uma paz que não está baseada em ser potência militar e que deseja todo armamento nuclear. As soluções aos problemas reais há de busca-las no diálogo que respeita o adversário. Todos os sistemas têm suas partes convincentes e todas as culturas devem ser respeitadas. Até em situações abertamente conflitivas deve-se buscar soluções pragmáticas de compromisso.

O sobrenatural, não exatamente espiritual no sentido cristão, é tido em grande estima. O respeito e atração pela Natureza, em seu sentido mais amplo, têm um significado semi-religioso e místico. Isto está em contradição com a exploração de florestas que as grandes empresas japonesas fazem por todo mundo.

O desenvolvimento econômico auto-sustentado e que usa ao máximo todas as energias naturais e humanas existentes, com um alto nível de educação, é o caminho seguro para a modernização de um país. A educação técnica da população que insiste por sua vez em promover responsabilidades sociais e que é capaz de criar uma identidade nacionalista sadia que a faça orgulhosa de sua cultura, é um fator essencial no desenvolvimento dos povos.

Dados gerais:

População: 126,7 milhões de pessoas (1999), 16,7 de 65 anos ou mais.

Política: Todos os cidadãos japoneses, a partir de 20 anos, têm direito ao voto nas eleições. A população que vota não chega a 60%.

Contribuição a ONU: A contribuição do Japão é de 10,8% desde o ano de 1986. É o segundo maior contribuinte financeiro depois dos EE.UU.

Renda per cápita: (1996) 3.228.000 yens, U$ 28.470.

População ativa: O Japão tem uma população ativa de 67.790.000, cerca de 4,7% de desempregados.

Sindicatos operários: Atualmente há três grandes coligações operárias. O total de membros associados foi de 12.285.000 (1997) e 26,6% da população empregada.

Agricultura: A porcentagem da população agrícola é 4,8%. Em 1960 era 26,8%. 70% do país são florestas.

Educação: Obrigatória de 6 a 15 anos. Há 586 universidades (431 particulares). 95% dos alunos passam à Universidade e 50% acabam seus estudos.

Religião: 49% dos japoneses (106.151.937) são xintoístas, 44% budistas (96.130.255), e 5% (11.019.359) pertencem a diversas religiões e 1.761.907 (0,8%) se declaram cristãos. Embora a população do Japão é de uns 126 milhões, a “população religiosa” soma 215.063.458: ou seja, a maioria dos japoneses se declara de várias religiões.

 

Ando Isamu

Diretor do Centro Social Jesuita de Tóquio