Ecologia integral: reconverter tudo

Ecologia Integral: ReconverTer tudo

José Maria Vigil e Pedro Casaldáliga
 


Foi o que disse, com voz profética, à Eatwot (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo), em sua última Assembleia Mundial, em Jacarta, Indonésia, há cinco anos. E esse foi um argumento, breve, porém substantivo, em seu documento “Visão ecológica e sobrevivência planetária ”.

O desafio continua, mais vivo e urgente do que nunca. A COP21 de Paris não afastou as dúvidas, e a redução de gases de efeito estufa, que precisa ser colocada em ação para não se ultrapassar o limite de 2º C até o fim do século, é de tal dimensão que parece impossível. Para nos manter dentro do limite, os países desenvolvidos devem reduzir as emissões em 70% (ou 85%, se levada em consideração sua responsabilidade histórica) antes de 2050. Mas os dados atuais mostram que no ritmo atual, em 2030 (logo ali...) teremos emitido todo o gás de efeito estufa “cobrado” para 2050. Estaríamos em um beco sem saída, à espera que seja agendada uma nova Cúpula, na qual reconheceremos estar em situação pior que em dezembro de 2015? Será, então, tarde demais?

Apesar do fato de a consciência ecológica crescer no mundo inteiro, ainda não há vontade política nas sociedades nem em seus governos, nem dinâmica suficiente na opinião pública para a mudança que exigimos. Pode-se dizer que, em geral, seguimos filiados à velha visão, a qual causou o problema. Ela ainda está aí, ativa e hegemônica. E a Eatwot tem razão: enquanto seguirmos vendo o mundo com a velha visão, não abandonaremos a atitude cômoda e suicida de destruir a natureza por um suposto e idolatrado “crescimento econômico”.

A Laudato Si diz que “faz falta uma ‘conversão ecológica’”. Uma conversão que chegue a ser uma verdadeira ‘revolução cultural’. E propõe, como eixo operativo, um novo conceito que suscitou uma boa acolhida, a “Ecologia Integral”, que une o social e o político, o cultural e o pessoal, todas as dimensões da realidade, interpenetradas e articuladas.

Nosso Livro-Agenda quer se somar ao clamor mundial crescente, mas insuficiente até o momento. Soma-se ao grito dos teólogos e teólogas do Terceiro Mundo, especialmente dos países que estão sofrendo os efeitos do aquecimento planetário, com milhares de refugiados climáticos – o grito da Terra em coro com o grito dos pobres! – unindo-se ao clamor da Mãe Terra, ao das selvas mutiladas, os bosques incendiados, os rios contaminados, as montanhas perfuradas, os animais encurralados em seu habitat invadido e as espécies em extinção, como consequência das ambições desmedidas e egocêntricas de uma espécie que se autoproclamou diferente, superior, dona da criação, e que olha para o resto da natureza como simples dispensa cheia de “recursos naturais” a serviço do “desenvolvimento econômico”.

Urge a conversão ecológica! Descobrir que é uma maneira antiga de olhar o mundo em que se aproximam o desastre, o ecocídio, o suicídio definitivo. Enquanto mantivermos a velha visão reducionista, dualista, antropocêntrica, utilitarista, desencantada, ignorante das dimensões profundas de mistério... seguiremos depredando a natureza e destruindo nosso habitat. É, sobretudo, uma questão de software, de visão de ideias, de mudança de paradigma, de nova forma de entender o mundo e a vida, e a nós mesmos dentro dela. A partir da nova visão da Ecologia Integral, a partir de seus novos princípios, é preciso reconverter tudo: a sociedade, a economia, o sistema energético, o sistema de produção, o conceito de desenvolvimento, a educação, nossos estilos de vida, o pensamento e até a espiritualidade...

Nosso Livro-Agenda aposta decididamente na Ecologia Integral e se engaja vigorosamente na tarefa, pondo-se a serviço dos educadores, dos militantes da Causa da Terra e dos pobres, para, entre todos e todas, ajudar os leitores, as leitoras e os grupos e comunidades a assumirem a Nova Visão, o novo software que nos permitirá amar a Natureza como a nós mesmos e mesmas, e sentir sua sacralidade como se fosse nossa.

Em mais um ano, grandes companhias latino-americanas e mundiais nos acompanham com sua palavra fraterna sobre a urgência de reconverter tudo a partir da perspectiva de uma Ecologia Integral. Uma tarefa urgente. Uma causa nobre. Um trabalho árduo. Um resgate de emergência. E talvez, após a COP21, a última oportunidade para salvar a vida do Planeta tal como a conhecemos hoje. Vale a pena. Mãos à obra.