Convite a uma Nova Reforma

Convite a uma Nova Reforma

John Shelby Spong


Em 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero deixava pregadas suas 95 teses nas portas da capela de Wittenberg. Era a origem da Reforma do século XVI. Hoje eu publico no boletim da diocese de Newark, The Bishop’s Voice, este manifesto, dirigido a todos os cristãos. E, publicando-o também pela internet, envio estas 12 teses aos principais responsáveis das Igrejas de todo o mundo, convidando-os para um debate. Não são tantas como as de Martinho Lutero, mas são muito mais radicais. J. S. Spong

1. O teísmo, como forma de definir Deus, morreu: Deus já não pode ser pensado, com credibilidade, como um ser, sobrenatural por seu poder, que habita o céu e está pronto para intervir na história humana periodicamente, e impor sua vontade. Por isto, a maior parte da linguagem teológica atual a respeito de Deus carece de sentido e nos leva a buscar uma nova forma de falar de Deus.

2. Uma vez que não se pode pensar sobre Deus em termos teísticos, não tem sentido procurar entender Jesus como a encarnação de uma deidade teística. Por isso, a Cristologia antiga está em bancarrota.

3. A história bíblica de uma criação perfeita e acabada, e a queda posterior dos seres humanos no pecado, é mitologia pré-darwiniana e um sem sentido pós-darwiniano.

4. A concepção e o nascimento virginais, entendidos literal e biologicamente, tornam a divindade de Cristo, tal como tradicionalmente entendida, impossível.

5. As narrativas de milagres do Novo Testamento não podem ser interpretadas, em um mundo posterior a Newton, como sucessos sobrenaturais realizados por uma divindade encarnada.

6. A interpretação da Cruz como um sacrificio oferecido a Deus pelos pecados do mundo é uma ideia bárbara, baseada em conceitos primitivos sobre Deus que devem ser abandonados.

7. A Ressurreição é uma ação de Deus: Deus exaltou Jesus à significação de Deus. Por conseguinte, não pode ser uma ressuscitação física, ocorrida dentro da história humana.

8. A narração da Ascensão supõe um universo, concebido em três níveis e por isso não pode ser mantida tal qual, em uma época cujos conceitos espaciais são posteriosos a Copérnico.

9. Não há uma norma externa, objetiva e revelada, plasmada em uma Escritura sobre tábuas de pedras, cuja missão seja reger em todo tempo nossa conduta ética.

10. A oração não pode ser uma petição dirigida a uma deidade teística para que atue na história humana de uma forma determinada.

11. A esperança de uma vida depois da morte deve ser separada, de uma vez por todas, de uma mentalidade de prêmio ou castigo, controladora da conduta. Por conseguinte, a Igreja deve deixar de se apoiar na culpa para motivar o procedimento.

12. Todos os seres humanos trazem em si a imagem de Deus e cada um deles deve ser respeitado pelo que é. Por conseguinte, nenhuma caracterização externa, baseada na raça, na etnia, no sexo, ou na orientação sexual, pode ser usada como base para alguma rejeição ou discriminação.

Nota do autor: Estas teses, que apresento para debate, estão inevitavelmente formuladas de forma negativa. É de propósito. Antes de alguém escutar o que é o cristianismo, deve criar um espaço para esta escuta, apagando as falsas concepções que tenha a seu respeito. Meu livro: Por que o cristianismo deve mudar ou morrer é um manifesto que chama a Igreja para uma Nova Reforma. Nele comecei a esboçar uma visão de Deus para lá do teísmo, uma compreensão de Cristo como presença de Deus, e uma visão da forma que podem chegar a ter tanto a Igreja como sua liturgia, no futuro.

Sugestões pedagógicas para debater em grupo:

− Em uma sessão única, ler cada tese e debater, procurando ver a que se refere o autor, o que quer dizer, e discernindo em que lhe damos razão.

– Organizar um seminário, com uma reunião de trabalho para cada tese, complementando o tema com leituras.

− Convidar a grande comunidade a estudar o tema, preparando-o talvez com algum cursinho adequado.

– À margem deste texto, ver o que não anda bem hoje em dia em nossa fé, e estudá-lo.

 

John Shelby Spong

Bispo emérito de Newark, NJ, EUA